Um amigo imaginário !!!

Entre os três e os cinco ou seis anos de idade, muitas são as crianças que têm um amigo imaginário. É através deste que conseguem lidar e livrar-se de sentimentos negativos. O amigo imaginário é alguém que está sempre disponível para brincar, que aceita tudo.


Através do amigo imaginário, a criança controla diversos acontecimentos, sentindo-se importante e especial, algo que poderá não encontrar na sua vida familiar, escolar ou social. Muitos pais ficam preocupados com a existência destes “amiguinhos”, contudo, não há motivos para preocupações pois a criação do amigo imaginário é uma atitude normal, positiva e benéfica para desenvolvimento da criança.

O que é um amigo imaginário?
Enquanto brincam sozinhas, muitas crianças gostam de imaginar que têm um amigo invisível, com o qual falam, riem e até se zangam. O amigo imaginário pode surgir de dois modos. Pode ser um amigo invisível, que ninguém vê ou um objecto personificado, como um boneco, com o qual a criança interage como se fosse humano. Assim sendo, pode ser qualquer coisa ou não ser nada em concreto. Mas independentemente de se ver ou não, de ser ou não palpável, o amigo imaginário é um recurso para que as crianças possam compreender todos os sentimentos que despertam nesta fase das suas vidas.
Apesar das crianças afirmarem que este amigo existe mesmo, que é de verdade, e de inclusivamente lhe atribuírem um nome, a criança tem consciência que, na verdade, ele é fruto da sua imaginação.

Qual a necessidade da criança criar um amigo imaginário?
É com o amigo imaginário que as crianças costumam partilhar os acontecimentos do dia-a-dia, brincar, conversar e discutir determinadas situações. Muitas delas acabam por se chatear com o seu amiguinho quando se sentem contrariados. Estes amigos permitem que as crianças partilhem as suas alegrias e, sobretudo as suas tristezas, e muitos outros sentimentos que não conseguem dividir com mais ninguém.
Embora tenham consciência de que o amigo imaginário não passa de uma fantasia sua, de uma criação da sua imaginação, usam-no como um recurso para se desenvolverem e lidarem com medos, frustrações, angústias, raiva, inveja, ciúmes e preocupações, servindo deste modo, para dar segurança à criança. Este é então um modo positivo que a criança arranjou para lidar com o seu mundo e se livrar de alguns sofrimentos.
Ao existir um amigo imaginário, a criança sente-se capaz de controlar diversas situações, uma vez que neste contexto ela tem a oportunidade para exercer a sua vontade, ter autoridade e dar ordens, algo que é impossível fazer perante os amigos reais, os irmãos e até mesmo os adultos.

Quais os benefícios?
É de referir que o amigo imaginário é uma demonstração das capacidades da criança para explorar e expandir a sua criatividade e imaginação. Visto que a imaginação é uma capacidade básica de todos os seres humanos para criar imagens, pensamentos e fantasias, é bastante benéfico que a criança tenha a aptidão para criar um amigo imaginário. O “faz de conta” é sinal de que a criança está a desenvolver a sua imaginação e, deste modo, a crescer de modo normal e saudável. Com isto, a criança tem a capacidade de reconhecer a diferença entre fantasia e realidade. Começa também a adquirir mais confiança em si própria, sentir-se-á mais forte e confiante, o que favorecerá a sua auto-estima, irá desenvolver habilidades sociais e passará a entender melhor o ponto de vista dos outros.Estes amigos imaginários podem ajudar no desenvolvimento da fluência da linguagem e a um futuro desempenho escolar positivo.


O que pode levar uma criança a criar este amigo?
Podem ser vários os motivos que levam uma criança a criar um amigo imaginário. Esta atitude pode ser desencadeada por mudanças de hábitos ou rotinas e situações de stress e ansiedade, como o nascimento de um irmão, o divórcio dos pais, a morte de um ente querido, a mudança de escola, a mudança de residência, a substituição de um professor, entre outros. Todos estes acontecimentos geram angústia na criança e, na impossibilidade de lidar com tais situações, cria o seu amigo imaginário para partilhar essas angústias. Existem certos factores que geram angústias, como o medo do escuro, a solidão e o abandono. Nestes casos, o amigo imaginário irá fazer companhia à criança, preenchendo um pouco o vazio que se apodera da criança.


Como devem os pais lidar com esta fantasia?
Quando os pais se apercebem que o seu filho tem um amigo imaginário com o qual fala e interage constantemente, ficam preocupados. Mas não há motivo para tais inquietações. Muito pelo contrário. Esta é uma atitude perfeitamente normal. Em idade pré-escolar as crianças precisam imaginar e criar o seu mundo de fantasia.Quando as crianças brincam ou falam com o seu amigo imaginário, os pais não devem interferir, a não ser que sejam solicitados para tal. Devem apenas observar e ouvir o que a criança diz e estar atentos aos seus gestos e atitudes. Se existir alguma problemática, é nestes momentos que a irão detectar e, desta forma, compreender e ajudar a criança. Também não devem incentivar ou reforçar a existência do amigo imaginário, pois, caso contrário, irá gerar-se confusão na cabeça da criança, uma vez que ela sabe e tem consciência de que este amigo é apenas imaginação sua. Se os pais tratarem o amigo imaginário da criança como real, esta deixará de conseguir discriminar o que é real daquilo que é fantasioso. Outra atitude errada será a repreensão ou a ridicularização. Nestes casos, a criança sentir-se-á desrespeitada e confrontada e, como consequência, frustrada e triste.


Quais os sinais de preocupação?
Os pais deverão estar atentos ao grau de interferência causado pela existência do amigo imaginário, uma vez que este não poderá prejudicar o normal desenvolvimento da criança. Será motivo para preocupação quando a criança integra o seu amigo em todas as actividades do seu dia-a-dia, quando ela apresenta dificuldades em sociabilizar com as outras crianças, quando prefere brincar com o amigo imaginário do que como os amigos reais e quando evita o contacto com outros meninos.
Como referi anteriormente, a idade para a existência deste amigo imaginário decorre no período da idade pré-escolar, entre os três e os cinco ou seis anos de idade, contudo, há crianças que não se desvinculam dele e a sua existência persiste por muito mais tempo. Em certos casos, o amigo imaginário começa a assumir proporções fantasmáticas e, assim sendo, passa a amedrontar e a controlar a criança, levando esta a sofrer bastante. Os pais deverão estar sempre atentos à interacção que a criança estabelece com esse amigo.
Em qualquer um dos casos mencionados, os pais deverão recorrer a uma ajuda especializada, como um psicólogo.



Texto elaborado Dra. Catarina Leal, Psicóloga Educacional